quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Spencer Hawes, pivô do Philadelphia (foto), acertou um belíssimo cruzado no queixo do comissário David Stern nesta quarta-feira. Via Twitter, Hawes perguntou: “Por que não há rumores de corte (no salário de David Stern), já que ele pede para os jogadores fazê-lo?”
Segundo o jornal “New York Daily News”, Stern ganha por temporada US$ 23 milhões! Uma fortuna.
Só para comparar, se não estivesse em locaute, Kobe Bryant seria o jogador mais bem pago da próxima temporada: US$ 25,2 milhões. Ou seja: apenas US$ 3,2 milhões a mais que Stern.
Na minha opinião, Stern merece cada centavo que ganha. Em suas mãos a NBA mudou (desculpem o lugar-comum) da água para o vinho.
Antes de sua chegada, em 1984, a liga norte-americana era uma liga associada com drogas, jogadores problemáticos e times falidos.
Hoje, a NBA está no mundo todo, seus jogadores são estrelas, ganham muito dinheiro (a média salarial na liga é de US$ 5,5 milhões) e a maioria das franquias está valorizada, sendo que a minoria, segundo Stern, tem trabalhado no vermelho.
Resgatando uma vez mais o livro “Minha Vida”, de Magic Johnson, ele cita que o jogo decisivo do título de 1980, conquistado diante do Sixers (aquele que ele fez 42 pontos, pegou 15 rebotes e deu sete assistências), foi transmitido ao vivo pela televisão apenas para algumas cidades.
“Assim que voltamos ao hotel, arriei na cama e telefonei para papai”, escreveu Magic. “Haviam-no deixado sair do trabalho mais cedo, a fim de assistir ao jogo, que fora transmitido em teipe para a maior parte do país. Ele já conhecia o resultado, mas ainda assistia à partida quando liguei”.
E prosseguiu: “O Lakers podia conquistar o campeonato americano e a maioria dos torcedores só assistiria a partida de madrugada. E eram dois times famosos, com grande cobertura da mídia. Era de se esperar que um confronto entre Dr. J. (Julius Erving) e seus meninos contra o time de Kareem (Abdul-Jabbar) tivesse um índice de audiência de horário nobre. Alguém podia imaginar a partida para se determinar o campeão americano de beisebol sendo transmitida em teipe às 11h30 da noite?”
E encerrou: “A NBA percorreu um longo caminho, sem dúvida”.
E percorreu mesmo.
Dennis Rodman, em seu livro “Bad As I Wanna Be” (sem tradução para o português), num dos trechos onde ele demonstra toda sua amargura pela falta de reconhecimento, especialmente do ponto de vista financeiro, diz:
“Larry Johnson vai ganhar US$ 87 milhões por um contrato de 12 anos em Charlotte. Esse dinheiro é quase suficiente para comprar um time”.
Isso foi em meados da década de 1990. Hoje, uma década e meia depois, a franquia mais em conta na NBA, segundo cálculo da revista norte-americana de economia “Forbes”, é o Milwaukee Bucks, que foi avaliado em US$ 258 milhões.
Mas essas franquias meia-boca podem custar mais de US$ 300 milhões, como é o caso do New Jersey Nets, estimado em US$ 312 milhões.
Como disse Magic, a NBA realmente percorreu um longo caminho, sem dúvida.
FORMIGUINHA
Assim que assumiu a NBA, em 1984, em seu primeiro dia de trabalho David Stern chegou à sede da liga, em Nova York, na Quinta Avenida (a entrada do edifício, no entanto, é pela 51), apresentou-se aos funcionários, desejou boa sorte a todos e pegou o elevador.
Pegou o elevador e andou a pé três quadras. Destino: sede da NFL, que fica na Park Avenue, entre a 49 e a 48.
Stern tinha agendado uma reunião com o presidente da liga norte-americana de futebol, Pete Rozelle. Queria saber como é que ele dirigia a entidade esportiva mais rentável do mundo.
E foi assim, perguntando aqui e ali, estudando muito, que Stern foi moldando a nova NBA. Hoje, a liga de basquete norte-americana é sinônimo de sucesso e é admirada e copiada por muitos. Hoje, o New York Knicks surge nas páginas da “Forbes” como a franquia mais valiosa da NBA: US$ 655 milhões.
EXEMPLO
Andrés Sánchez, presidente do Corinthians, neste domingo que passou, esteve no programa “Mesa Redonda”, da TV Gazeta (foto), apresentado pelo meu companheiro de Jovem Pan Flavio Prado. Conversa vai, conversa vem, Sánchez disse que a criação de uma liga é uma coisa inevitável no futebol brasileiro; e que do ano que vem não passa.
Mas, segundo ele, esta liga tem que ser profissional. Sua administração tem que ser profissional e cuidar de tudo. “Nos moldes da NBA, um exemplo a ser seguido”, disse Sánchez.
E, como na NBA, com um profissional presidindo-a. “Nada de um ano ser o presidente do Corinthians e no outro o do Flamengo”.
Seria espetacular se o futebol brasileiro encontrasse seu David Stern.
RESPOSTA
Perguntado se iria reduzir seu salário para US$ 1 durante o locaute, como fez o presidente da NFL, Roger Goodell, David Stern respondeu: “Da última vez que houve um locaute na NBA, eu não recebi salário algum. E eu acho que um dólar seria demasiado elevado neste caso”.
Portanto, o comissário não estará recebendo salários enquanto o locaute durar, exatamente como acontece com os jogadores.
ADVERTÊNCIA
O ataque de Spencer Hawes a David Stern foi hoje. Ontem, o comissário da NBA disse achar um despropósito que jogadores pensem em jogar na Europa por um dinheiro muito inferior ao que eles têm à disposição nos EUA.
Segundo David Stern, coletivamente, os jogadores da NBA podem gerar alguns milhões de dólares na Europa, algo que não deve chegar nem a US$ 300 milhões, segundo imagino. “Mas nós temos um sistema que entrega a eles US$ 2 bilhões!”, disse Stern.
Verdade; não faz sentido algum passar por privações para se ganhar menos do que se tem garantido no conforto do lar.
E mais: segundo Stern, 10, 15, talvez 20 jogadores possam se arrumar na Europa e/ou Ásia. E os demais?
E advertiu: “Isso pode quebrar a união entre os jogadores”.
Verdade também, pois os que não conseguirem se arrumar podem pensar: onde estão as estrelas, os caras que podem dar a cara para bater numa negociação com a NBA? Eles estão endurecendo porque podem arrumar trabalho no exterior, mas e nós?
DESEQUILÍBRIO
Nesse imbróglio todo, eu acho que os jogadores estão gulosos demais. Não digo com isso que a proposta da NBA é a ideal.
Mas que há um desequilíbrio nesta balança financeira, isso há. E ela pende demais para o lado dos jogadores.
Esse equilíbrio tem que ser encontrado. E para que isso ocorra há que se ter inteligência e tranquilidade neste momento.

Fonte:www.ig.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário